Deus andava preocupado. Um dia, chamou o S. Pedro e disse-lhe:
– Pedro, tu que foste pescador, talvez me saibas elucidar sobre uma questão…
– Dizei, Senhor.
– Há um povo onde os pescadores à linha são muitos mais que os que disso fazem vida. É gente que ama a pesca, por recreio ou por desporto, tanto no mar como nos rios e lagos. E até qualquer charca lhes serve para pescar. Porém…
– Sim, Senhor?…
– Porém, são muito mal vistos. Os que de entre esse povo não pescam têm uma opinião péssima dos outros.
– Como assim, Senhor?
– Acusam-nos de ser uns autênticos porcos, pois que parte deles deixa os pesqueiros imundos, após as pescarias…
– Oh!…
– Acontece também que parte deles estão-se borrifando para coisas como a qualidade das águas, a poluição, e até já me chegou aos ouvidos que promovem provas desportivas em águas impuras, acomodando-se à impureza e a outras tropelias e aos seus fautores!…
– Que horror, Senhor. São coisas do demónio…
– Serão, serão, mas o que é facto é que se os que usufruem dessas águas não se erguem acabam por, a prazo, serem vítimas do seu desleixo. E eu vejo estragada uma das partes mais belas da minha Criação sem que eles me ajudem a conservá-la.
– Mas… e os ambientalistas, Senhor?
– Esses só se preocupam com a passarada, com as árvores e as plantas. Com a água e os peixes só respingam quando estes já não existem e a água já nem água é.
– Que pena. Que havemos de fazer, Senhor?
– Lembrei-me que deve haver alguma autoridade local que agrupe esses pescadores. Entra em contacto com ela e … sensibiliza-a, como agora se diz.
São Pedro acatou a Divina ordem. Passados 15 dias, deu conta dos seus esforços.
– Senhor, enviei dois Anjos à Terra, já tenho os relatórios sobre esse povo estranho com estranhos pescadores desportivos.
– E então, meu filho…
– Após porfiados contactos com as autoridades da pesca desportiva local, os Anjos comunicaram-me que estão destacados para fiscalizarem uns campeonatos internacionais de pesca desportiva cuja realização foi atribuída a esse povo…
– Estranho… Muito estranho… E com respeito ao resto, à imagem de pescadores porcos e de alheados do estado das águas locais e de outras barbaridades, o que apuraram?
– Bom, Senhor, quanto a isso, aconteceu uma coisa esquisita. Os relatórios são omissos. E concluem que o que é realmente importante é ser uma máquina de organizar provas de pesca. E, nisso, dizem, os elementos desse povo são, actualmente, imbatíveis. São também recordistas mundiais na oferta de televisores, micro-ondas, presuntos, bacalhaus, máquinas de café e outras tralhas que tais nas concursalhadas que promovem.
– BRRRR!!!
– É triste mas é verdade, Senhor.
– E que povo afinal é esse, Pedro?
– São os Portugueses, Senhor.
– Portugueses… Hum… Então chama-me aí o Santo António.
– Para quê, Senhor? Para fazer o que os Anjos não conseguiram, dada a vantagem do Santo ter nascido em Portugal?…
– Não! Para ir outra vez pregar aos peixes, para que se cuidem. Agora, como há centenas de anos atrás, falar a esse povo não adianta.