Há cerca de uma semana que milhares de peixes estão a aparecer mortos a boiar no rio Guadiana. A mortandade atingiu as praias da zona de Monte Gordo, concelho de Vila Real de Santo António, e não há ainda uma explicação oficial para o que se está a passar.
Só nesta quarta-feira, a equipa de limpeza da junta de freguesia de Vila Real de Santo António recolheu, entre as 6h e as 8h, cerca de 100 quilos de tainhas junto à praia. A maior concentração de cardumes dizimados tem-se vindo a registar na foz de Odeleite.
Para não afastar os turistas, as operações de limpeza têm sido efectuadas de madrugada e durante a noite por cerca de três dezenas de pessoas e 15 barcos, pertencentes às autoridades marítimas, protecção civil e autarquias.
Durante a manhã e ao fim da tarde, quando mudam as marés, os barcos da Marinha percorrem num vaivém quase permanente o rio Guadiana entre Vila Real de Santo António e Alcoutim, procurando resgatar o peixe morto. Morreram toneladas de peixe e não há uma explicação”, exclama o presidente da Câmara de Alcoutim, Francisco Amaral, sublinhando “desconhecer” o resultado das análises que foram feitas à qualidade das águas e aos peixes, a cargo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
O autarca de Vila Real de Santo António, Luís Gomes, acrescenta que teve conhecimento “informal” de que as águas se “encontram de boa qualidade”, razão pela qual continua hasteada a bandeira azul na praia. O que é certo, sublinha o presidente da junta de freguesia de Monte Gordo, Manuel António, é que “os peixes continuam a morrer, embora agora seja em menor quantidade do que na semana passada”.
O mestre de redes António da Silva, de 58 anos, comenta: “O rio tem uma cor verde, mas na semana passada só se viam manchas brancas, formadas pelo peixe de barriga para o ar. Dava mesmo pena”. Mais animado a meio da manhã desta quarta-feira, ao ver passar o cardume de tainhas, observou: “Parece que a poluição, ou que quer que seja, já foi levada pela maré, desapareceram os peixes mortos”. Três horas antes, ao nascer do sol, tinha visto os cadáveres em sacos de plástico.
Enquanto não forem conhecidos os resultados das análises aos peixes especula-se sobre o que se terá passado: “Dizem que é capaz de ter sido alguma descarga das fábricas em Espanha”, observa, por seu turno, o pescador Manuel Bonança. “Este rio dá corvinas, enguias, robalos e toda a espécie de peixe, mas são as tainhas – um peixe resistente – e não se percebe porquê”, afirma.
Na junta de freguesia de Vila Real de Santo António, António Botequilha, funcionário da equipa de limpezas na praia, avança com uma explicação empírica: “Morre a tainha porque é um tipo de peixe que anda sempre à superfície para se alimentar”.
Luís Gomes diz ter contactado as autoridades espanholas para que o fenómeno fosse analisado, numa perspectiva transfronteiriça. “A explicação que me deram, informalmente, foi a de que a morte dos peixes deveu-se ao choque térmico”. Ontem a temperatura da água do mar na praia de Monte Gordo atingiu os 25 graus.
Os nadadores-salvadores e os concessionários das praias também têm colaborado na recolha do peixe que vai ficando, de forma esporádica, na praia, quando baixa a maré. A concentração das operações de recolha do peixe, que é depois transportado para o aterro sanitário, dá-se entre as 20h e a meia-noite.
Na capitania de Vila Real de Santo António um dos responsáveis pela equipa que está a monitorizar o rio deixa um desafio aos técnicos do IPMA: “Não deixa de ser estranho que as aves, gaivotas e cegonhas tocam no peixe que dá à costa e não encontramos tainhas bicadas”.
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