Há tempos, numa pescaria no Tejo, às fataças, conheci dois sujeitos que faziam uns despretenciosos lançamentos ao fundo, na esperança de pescarem uns barbos. Como percebi que procuravam peixe para o petisco, ofereci-lhes meia dúzia de fataças que pacientemente pescara à bóia.
Os companheiros eram gente comunicativa. Fiquei a saber que eram de Alenquer e que um, conhecido pelo diminutivo de Janeca, tinha 71 anos. O outro, de nome Vieira, tinha 63. Mais exuberante, o Sr. Janeca disse-me: “Quando for a Alenquer pergunte por mim e faça-me uma visita. Toda a gente lhe diz onde moro”. E ofereceu-me um saco de laranjas.
Posteriormente, voltei ao mesmo pesqueiro com um amigo e encontrei o Sr. Vieira, sozinho, na sua labuta belos barbos. O reencontro foi uma festa. No fim da pescaria, disse-me: “Quando vierem pescar para aqui liguem-me para eu vir também, que eu gostava de aprender o vosso tipo de pesca”. E deu-me um cartão, onde estavam inscritos o telefone e o telemóvel.
Passado cerca de um mês, liguei ao amigo Vieira, a convocá-lo para daí a dois dias.
No dia aprazado quando eu e o meu companheiro habitual das lides piscatórias chegámos ao local já lá estava o nosso amigo. Tinha chegado bem cedo, para garantir o pesqueiro. O amigo Janeca não pudera comparecer, pois tinha ido a uma feira, às Caldas da Rainha. Mas mandava-nos um abraço.
Então, manifestou-nos o desejo de pescar à bóia, para o que se tinha prevenido com a compra de uma cana, engodo, iscos e montagens. O meu companheiro emprestou-lhe um carreto, pois o dele tinha linha muito grossa, e toca de fazermos os pesqueiros.
O dia não era o melhor para a pesca. Designadamente, porque a temperatura tinha subido cerca de 10 graus em relação ao dia anterior. E os peixes, como sabemos, por não terem temperatura constante, são sensíveis às mudanças bruscas de tempo. Mesmo assim, saíram umas fataças, com o amigo Vieira mostrando excelentes reflexos a ferrar.
Estava contentíssimo o amigo Vieira. Logo no primeiro dia de pesca à bóia e já a tirar uns peixitos… Quase no fim da pesca, eis que ferra um peixe mais graúdo, que começa a levar muita linha. Fomos aconselhando as manobras ao nosso amigo e às tantas, o meu companheiro acabou por tomar conta das operações, para o peixe não se enfiar nas ervas, aproveitando-se da inexperiência do amigo Vieira.
Era uma carpa de um quilo e tal.
O nóvel pescador de bóia exultou. “Hoje não vou conseguir dormir, com tanta excitação”, disse, com um grande sorriso de felicidade estampado na cara.
A despedida foi selada com duas cervejas que o amigo Vieira fizera questão de trazer para nós, ficando-se ele por um copo de branco. E com a promessa de repetirmos o convívio piscatório, coisa que já fizemos mais duas vezes.
E pronto, meus amigos, perante estes factos… não é preciso acrescentar mais nada.