7.05 h.:
Interior de um pequeno café-taberna, no centro de uma vila piscatória e de veraneio, em Setembro.
- Então o amigo vai à pesca, hem! Se calhar, os peixes ainda estão a dormir, ah, ah ah!... Eu tenho uma cana e um carreto e trago sempre o material nas férias, mas acabo por não o utilizar. Não tenho paciência... E você vai tão cedo, com este friozinho do Norte. Tá bem tá… Mas acho muita piada aos pescadores, especialmente quando eles contam as pescarias… Lá diz o ditado: caçadores, pescadores e outros mentirosos, ah, ah, ah!…
- …
- Já vai?... Então boa pesca! E não exagere muito no tamanho e na quantidade dos peixes, ah, ah, ah!...
7.21 h.:
O pescador desportivo escolhe o pesqueiro numa lage, ao fundo de uma pequena arriba, entre duas praias.
7.44 h.:
O pescador apanha um robalote. Volta-se de costas para o mar, para desanzolar e guardar o peixe e vê um velhote, observando-o, no cimo da pequena arriba.
7. 58 h.:
O desportista da cana e do anzol apanha o segundo “cachaço” e constata que o mirone se mantém no seu posto.
9.19 h.:
O homem dá por finda a pescaria. Recolhe de uma poça de água e acondiciona os quatro robalitos pescados. Todos da mesma talha, na ordem do meio quilo. O velhote postado no cimo da arriba volta costas e desaparece.
14.27 h.:
Após almoçar robalo grelhado, o veraneante e pescador desportivo dirige-se com a mulher à esplanada da praia e pede dois cafés.
- Sr. Nicolau, hoje de manhã, um tipo apanhou 8 ou 9 robalotes, ali na lage do canto da praia. – Disse o empregado enquanto pousava as duas bicas.
15, 03 h.:
- Amigo Nicolau, olhe que está a dar peixe na lage onde costuma pescar. Hoje de manhã esteve lá um fulano que tirou uma dúzia de robalos, todos com mais de um quilo. – Disse Ramiro, um veraneante conhecido de férias anteriores, quando Nicolau regressava da esplanada.
16.58 h.:
- Sr. Nicolau, Sr. Nicolau, apanharam uma caterfa de robalos, todos à volta do quilo e meio, na lage dos mexilhões, onde o Sr. costuma pescar. – Disse um natural da terra, velho conhecido de muitos Verões, ao passar junto à janela da casa habitualmente alugada por Nicolau, no mês de Setembro.
17,10 h.:
Nicolau dirige-se ao café-taberna onde havia tomado o café da manhã.
- Uma imperal, por favor.
- Olá, olá!… Como as coisas são… Eu ainda esta manhã lhe dizia que não tinha paciência para pesca e agora você apanha-me aqui, preparado para dar banho à minhoca.
- Já agora, o que é que lhe motivou essa súbita vontade? – Perguntou Nicolau, enquanto mirava a cana e o carreto, de procedência chinesa, do inesperado pescador.
- Não sabe a novidade!? Houve um bacano que esta manhã se encheu de robalos, numa lage ali ao canto da praia. Todos com mais de dois quilos. Vou para lá agora, a ver se arranjo lugar. Há 10 minutos já lá estavam sete manos…
- …
- A propósito, apanhou alguma coisa, hoje de manhã?
- Quatro peixitos…
- Eh lá!... A sério!? Não haverá aí exagero de pescador? Não leve a mal… É que caçadores e pescadores… ah, ah, ah!...