São deixados à porta do abrigo da Associação Patinhas Abandonadas de Vieira do Minho, atados pelo pescoço ou pelas patas. Cães, gatos. Se forem fêmeas com filhotes, são enfiados dentro de caixotes e lá ficam, a aguardar que alguém abra a porta, os veja e trate deles. Só este ano, esta associação já tirou da rua mais de 200 animais. Não é caso único. Por todo o país há animais que são abandonados e as associações falam agora na dificuldade de os donos fazerem face à despesa que é ter um animal de estimação.
A presidente da Associação Patinhas Abandonadas, Narcisa Rodrigues, diz que, além de continuar a haver mais cães abandonados nas férias, o número de animais deixados na rua, sobretudo cadelas com crias, cresceu entre o ano passado e este. "A crise económica é também muito acentuada no nosso concelho, havendo casos de pobreza extrema, onde algumas superfícies comerciais que em tempos doavam os restos alimentares para os animais estão actualmente a doar esses mesmos restos para algumas pessoas levarem para casa e alimentarem uma família inteira", explica.
Já a presidente da Sociedade Protectora dos Animais (SPA), Gabriela Melo, defende que o abandono dos animais é anterior à crise, não é sazonal e acontece ao longo de todo o ano. "É possível que haja mais abandonos devido à crise, mas não há dados oficiais nem nenhum estudo porque o Estado ignora o problema", lamenta.
O que esta responsável verifica é que a conjuntura económica do país acentuou a dificuldade de os donos fazerem face às despesas que um animal doméstico implica (ver caixa). "Como temos consultórios veterinários notamos, isso sim, que as pessoas se coíbem de fazer despesa devido à crise. Deixaram de vacinar os seus bichos e só recorrem a estes serviços em caso de doença dos animais", alerta.
Apesar de a maioria das queixas que ouve ser de donos que não conseguem suportar as despesas, Gabriela Melo também já se apercebeu de que há pessoas que gostariam de adoptar um animal e não o fazem por falta de dinheiro.
Abates todas as semanas
A responsável da SPA admite que tem havido "um número crescente" de gatos deixados na rua e que recebe "dezenas de pedidos de ajuda diários, por telefone", entre outros motivos, porque as associações "estão a abarrotar de animais, debatendo-se com falta de meios financeiros e humanos para dar mais e melhor resposta".
A associação de Vieira do Minho é um exemplo. Actualmente, naquele abrigo, com capacidade para 30 animais, há 70. Todas as semanas são "obrigados" a abater alguns.
Gabriela Melo lamenta que o Estado não faça mais para combater o problema: "Não podemos continuar a abater animais nos canis porque isso não resolve o problema da sobrepopulação e do abandono - o abate não evita os nascimentos em catadupa", diz, defendendo que "fica mais barato" ao Estado esterilizar do que abater.
A presidente da SPA não tem dúvidas de que "o combate ao abandono passa pelo controlo da sobrepopulação animal através da esterilização e castração". Defende que "só com uma política eficaz de controlo da natalidade" se pode encontrar correspondência entre os animais existentes e os donos em condições de tomar conta deles. "Mas como podemos pedir às pessoas que paguem cirurgias de 200 euros para estes fins sem qualquer retorno?", questiona, defendendo que estas despesas deviam poder ser deduzidas no IRS.
A maior parte dos animais que vão parar à porta da SPA ou que são recolhidos pelos voluntários são rafeiros de todas as idades, em geral doentes, mas também há, embora sejam casos mais raros, cães de raça, que arranjam novo dono mais depressa.
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