A AbetardaIdentificação A Abetarda ou Abetarda-comum de nome científico Otis tarda tarda é uma das aves de maior tamanho da avifauna europeia sendo uma das espécies voadoras mais pesadas do mundo.
Apresenta um grande dimorfismo sexual, o macho é 2 a 4 vezes mais pesado e 50% maior que a fêmea. É a maior das espécies de otidídeos, chegando os machos a atingir 260cm de envergadura de asa e um peso que varia entre 8 e 16 kgs. Em Portugal (Castro Verde) há relatos, não confirmados, de indivíduos com 17 kgs.
Onde se encontra? A Abetarda tem uma ampla distribuição, desde o Norte de África e Península Ibérica, através do Centro e Sul da Europa, Ásia Menor, Sul da Sibéria, Turquestão, Mongólia e Manchúria até à porção mais Oriental da China. A distribuição encontra-se bastante fragmentada
Estudos genéticos recentes têm demonstrado que a população ibérica é divergente geneticamente da população da europa central e de leste, sugerindo uma separação de 200 000 anos (Pitra et. al., 2000).
Na região do Paleártico cria actualmente em Espanha, Portugal, Alemanha, República Checa, Eslováquia, Hungria, Áustria, ex-Juguslávia, Roménia, Bulgária, Turquia, Ucrânia, Federação Russa e Marrocos
Números no Mundo e em Portugal Actualmente a estimativa mundial é de 31000 a 37000 aves (Morales & Martin 2002), das quais cerca de metade ocorre na Península Ibérica.
Em Portugal a população está estimada em 1150 aves (Pinto et al., 2005) e a sua distribuição limita-se praticamente ao Alentejo. Na época de reprodução, observa-se a aglomeração da quase totalidade dos animais em dez áreas: Alter do Chão, Monforte, Vila Fernando, Veiros, Campo Maior, Elvas, Évora, Mourão, Cuba/Vidigueira e Campo Branco (Castro Verde). A característica comum destas áreas é o facto de serem praticadas rotações culturais, onde a seara de sequeiro alterna com campos de pousio, essenciais para a parada nupcial dos machos.
Ecologia A Abetarda é uma espécie gregária durante a maior parte do ano, ocorrendo regularmente em bandos, que correspondem a unidades sociais. Dependendo da época do ano, podemos encontrar bandos de machos, bandos de fêmeas, bandos de fêmeas com crias e bandos de machos jovens.
À medida que o Outono se aproxima do fim, iniciam-se os comportamentos agonísticos entre machos (perseguições e exibições, que levam ao estabelecimento de hierarquias). Com o final do Inverno, os bandos de machos começam a dispersar e os indivíduos dirigem-se a áreas específicas onde iniciam o comportamento reprodutor ou de parada (áreas de Lek).
Os machos em parada podem-se observar no Campo Branco nos meses de Março, Abril e Maio (se bem que este último apenas no início
Após a cópula, a fêmea dispersa para os locais de nidificação, geralmente searas ou pastagens altas. O ninho é uma depressão no chão que corresponde ao corpo da fêmea. A postura varia entre 2 e 3 ovos. Após um período de incubação que varia entre 21 e 28 dias nascem os pintos. Os pintos são nidífugos, ou seja, pouco tempo após o nascimento abandonam o ninho e já estão prontos a seguir a progenitora.
No Campo Branco, a abetarda alimenta-se sobretudo de plantas verdes expontâneas, com algum consumo de sementes de plantas cultivadas no Verão (trigo e grão-de-bico), Outono (trigo) e Inverno (azeitonas). Os invertebrados estão presentes na dieta ao longo de todo o ano mas essencialmente na Primavera, Verão e Outono. Os grupos de invertebrados mais consumidos são os escaravelhos (coleópteros), formigas (heminópteros), gafanhotos (ortópteros) e lagartas (formas larvares de lepidópteros) (Rocha et al., 2005).
Conservação A abetarda é considerada EM PERIGO, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (Cabral et al., em publ.). Está incluída no Anexo II da CITES, no Anexo II da Convenção de Bona, no Anexo II da Convenção de Berna, no Anexo I da Directiva Comunitária AVES e tem estatuto de RARO segundo a UICN. Integra também a lista de espécies de aves ameaçadas a nível mundial, com o estatuto de Vulnerável e está incluída na categoria SPEC 1 (Birlife International, 2000, 2004).
As ameaças principais à população mundial estão relacionadas com a intensificação da agricultura e aumento da pressão humana. Em particular, motivadas pela privatização de terras na Europa de Leste e Ex-União Soviética e a intensificação da agricultura na China. A perda de habitat resulta essencialmente do desaparecimento de pastagens, aumento da densidade de gado, florestação de zonas agrícolas e aumento de perímetros de rega, estradas, linhas eléctricas, vedações e valas de drenagem. Por outro lado factores como a mecanização da agricultura, pesticidas e fertilizantes, fogo e predação, contribuem para uma elevada mortalidade de ovos, crias e juvenis (BirdLife International, 2000). Em alguns países, como a Ucrânia e a China, a caça continua a ser a principal ameaça.
A principal ameaça identificada no nosso país é a alteração do habitat da Abetarda, quer devido a intensificação da agricultura quer pela florestação de terras agrícolas. Em particular, a irrigação de vastas zonas agrícolas poderá levar a curto prazo ao desaparecimento da espécie de vários locais de ocorrência tradicional do Alentejo. O grande projecto de Alqueva, cuja área de regolfo já inundou áreas estepárias relevantes sem qualquer tipo de compensação ambiental, levará à transformação de milhares de hectares de áreas agrícolas extensivas em regadio. Em Campo Maior, onde ocorre um dos principais núcleos reprodutores a seguir a Castro Verde, a intensificação agrícola adquiriu contornos alarmantes devido ao regadio, e apesar da área estar designada como ZPE, o habitat disponível para a Abetarda é mínimo.
A colisão em linhas de transporte de energia de alta e média tensão é uma das principais causas de mortalidade adulta da Abetarda no Campo Branco. Nesta região, num único troço de Muito Alta Tensão (troço de 11 km da Linha Ferreira/Ourique), morreram pelo menos 16 abetardas no período entre Setembrode 2004 e Outubro de 2005 (Marques, 2005). A colisão ocorre também noutras áreas: com a instalação da linha de alta tensão Palmela-Évora, em meados dos anos 80, terão morrido pelo menos 18 abetardas por colisão com os cabos (Cruz, 1996). A proliferação recente de linhas de média tensão na região potencia a mortalidade por colisão da Abetarda.
Fonte: seguimentodeavesNão sendo esta uma espécie cinegética, e ainda bem, parece que muita gente mata aquilo que maior tamanho tem.
Esta ave está a sofrer as consequências do Homem e do avanço Tecnológico, estando considerada em vias de extinsão.
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