Carta de uma Caçadora ao PAN
"Os animais não são pessoas nem coisas, são seres sensíveis". Esta foi a citação que deu destaque a uma das entrevistas de André Silva, líder do PAN (Partido Pessoas Animais e Natureza).
Não gosto de comentar este tipo de entrevistas, mas não consegui ficar indiferente, uma vez mais. Hoje farei um desabafo, outro mero desabafo... Poderá não chegar a lado nenhum, porque a Sociedade me impedirá disso mesmo, mas pelo menos tentei... Outra vez! Porque muitas vezes tentamos e falhamos, é certo; contudo, a nossa única falha é parar de tentar! Não pararei nunca!
"Caro Senhor André Silva... Não nos conhecemos, mas permita que me apresente: o meu nome é Mafalda Rodrigues Leitão, tenho 26 anos e, para mim, os animais e a Natureza são das coisas mais importantes da minha vida. Não digo a mais importante, porque felizmente tenho família. Família essa constítuida por seres humanos que, quer eu queira, quer não, me conseguem compreender e amar de forma bastante peculiar, ou seja, de forma que só os humanos conseguem.
Tenho vindo a seguir algum do seu trabalho e dos seus ideais. E, mais recentemente, estive a ler a sua entrevista para a SIC Notícias, onde salienta que os animais não são pessoas nem coisas, são seres sensíveis.
Não podia estar mais de acordo consigo Senhor André. De facto, os animais são seres sensíveis, tal como as plantas, as árvores e os humanos! Há, portanto, uma sensibilidade (com diferentes nuances) em tudo o que nos rege, ou seja, em toda a Natureza.
Mas, como estamos a falar somente dos animais, não gostaria de entrar por outras vertentes, e cingir-me-ei somente ao assunto comentado.
Estamos num País, num Continente e, consequentemente, num Mundo "mascarado" de extremismos e fundamentalismos. E, todos os dias, nos deparamos com situações desse tipo, nomeadamente, os tão temerários ataques do Estado Islâmico, que conseguem colocar milhares de pessoas com medo. Essas milhares de pessoas tornam-se, por momentos, em simples marionetas do poder. Em simples marionetas de extremismos e fundamentalismos, regidos por um "grande Deus - Alá".
Depressa nos apercebemos que nos movimentamos todos por uma causa, por uma razão ou, simplesmente, por uma força em que acreditamos. Com tudo isto, chego ao ponto fulcral desta carta: a força que nos move. Compreendo que a si, Senhor André, a força que o move seja o amor pelos animais. Estarei errada?
A força que me move é, com toda a certeza, o amor pelos animais. E, mais uma vez, estamos de acordo. Mas... E há sempre um mas... Esqueci-me de lhe referir um pormenor. Talvez um grande pormenor que mudará todo o sentido desta carta, para si. É que eu, Mafalda Rodrigues Leitão, 26 anos, tendo como uma das coisas mais importantes da vida os animais e a Natureza; sou caçadora. É verdade... Ando no campo, em contacto com a Natureza e com todas as espécies, e com uma espingarda.
Senhor André... Em tempos, também eu fui contra a caça e também eu os intitulava de assassinos! Mas, aquele extremismo e fundamentalismo que falava anteriormente, deixou de fazer parte da minha vida. Permiti, a mim própria, ver mais além e ver outra realidade: a realidade do campo, do meio rural e das pessoas que não têm mais nada, a não ser a caça.
E, por isso, também lhe escrevo, porque se tem esse amor pelos animais, que acredito totalmente, também o tem de ter com as pessoas e não podemos colocar tudo no mesmo "saco", nem tratar tudo com o mesmo fundamentalismo. Bem sei que os animais precisam que os defendam, pois não têm forma de o fazer. Tem o meu apoio nisso! Bem sei que os animais são seres sensíveis e quem os mal trata deve ser punido! Tem o meu apoio também nisso! Agora... Acabar com todas as raças? Acabar com o nosso património português, como é o caso do Perdigueiro Português? Acabar com touradas? Acabar com a caça? Acabar com a gestão cinegética? No fundo, acabar com a Natureza?
Não pode ser feito assim! Temos de ser inteligentes, e assim o considero, mas fazer as coisas de forma a que não prejudiquemos nada, nem ninguém. Quando estou na Natureza, no acto de caçar, a espécie cinegética que mato, por exemplo, andou uma vida inteira em liberdade e feliz, sem sofrimento. Mas, como nos dita a Pirâmide Ecológica, há presas e predadores e disso não podemos fugir nunca! Porque os próprios animais irracionais também o fazem, como subsistência! E não vale a pena entrarmos por fundamentalismos, comendo só verduras porque, também elas têm sentimentos, não é? Um estudo recente nos EUA, por Cleve Backster, ditou mesmo isso, que as plantas sentiam, por exemplo, medo. E, se nos comandamos por estas teorias, onde podemos acabar?
Portanto, Senhor André, venho pedir-lhe apenas que pense em tudo isto que lhe escrevo... Que, efetivamente, os caçadores preocupam-se com os animais e com a Natureza, mais do que qualquer pessoa. Segundo vários estudos, os caçadores ajudam mais na gestão cinegética das espécies, no controlo de doenças, no entrave à extinção de algumas espécies, do que qualquer outra pessoa!
Nós não somos assassinos! Somos pessoas, com sentimentos e emoções, como qualquer outra pessoa; mas que gostam de animais e da Natureza. Que ajudam outras tantas pessoas, que ajudam o País, especialmente o interior. Não nos tirem a nossa felicidade! Não continuem a tirar horas e horas de sono a pessoas que só têm a caça e a Natureza, como forma de vida. Não nos maltratem! Como nós também não maltratamos os "vossos" animais!
Por último, e como despedida, dou-lhe os meus parabéns pela força que o move! Tomara a muitos serem assim... Mas considere essa força, sem fundamentalismos, por favor! Use essa força para perceber que não podemos comparar, por exemplo (e usando algum extremismo aqui) uma violação a uma criança e uma "violação a um animal"; não podemos comparar uma tentativa de assassinato a uma pessoa e uma tentativa de assassinato a um animal; não podemos comparar uma depressão humana com uma depressão animal; no fundo, não podemos comparar a dor humana e a vida humana com a dor animal e a vida animal.
Porque se eles falassem... Não acha que iriam preferir ser livres e felizes do que viver, por exemplo, em 20 metros quadrados? Não acha que iriam preferir morrer com um tiro, sem sofrimento nenhum, do que morrer com uma doença que os deixasse em sofrimento permanente? Pensemos nisto...
Assinado: Uma caçadora que dorme com duas cadelas na cama, todos os dias!"
ML.
in: http://diariodeumacacadora.blogs.sapo.pt/carta-de-uma-cacadora-ao-pan-9165