- Ah, ah, ah...
- Eh, eh, eh...
Eu e o meu amigo Felisberto rimos a bom rir, no exterior da loja de pesca, depois do lojista nos ter informado que não tinha sardinha para pesca.
- E era este que dizia, antes de abrir a loja, que iria ter sardinha a 1 euro e 45. Mais barata 5 cêntimos que a concorrência. E já lá vão três meses... – Disse o Felisberto.
- Ah, ah, ah... – Tornei a rir, com bem disposta condescendência, enquanto nos encaminhávamos para o carro, rumo a outra loja.
- Não há peixe nenhum. – Desbafei eu para o solícito empregado.
- Andam aí muitos sargos...
- Ah sim? Não me diga. Não temos apanhado nada. E andam aonde?
- A Norte.
- A Norte!?... Admirou-se o Felisberto. - Temos corrido o litoral desde o Guincho até à Lourinhã... E nada.
- Dão à noite.
- Ah, ah, ah...
- Eh, eh, eh...
Eu e o Felisberto tornámos a rir a bom rir, no exterior da loja.
- Azar o nosso não pescarmos de noite.
- Pois é... – Disse eu, dando nova risada. – Se calhar, se pescássemos à noite davam de dia.
- Eh, eh, eh...
Foi então que surgiu o Carvalhosa, o homem que só costumava pescar sargos de quilo.
- Então, essas pescarias? - Perguntei eu, adivinhando a resposta.
- Fiz uns sargos bons, na costa alentejana. Todos à volta do quilo.
- Ah, ah, ah...
- Eh, eh, eh...
Ainda gargalhávamos quando surgiu o Pires. O indivíduo que pescava sempre muitos peixes na casa das 400 gramas, sendo que uma vez por mês arrancava pelo meio um robalo de dois quilos.
- Amigo Pires, então e que tal? – Perguntou o Felisberto.
- Fiz uns sargotes, todos à volta das 400 gramas. No fim, ferrei um robalo bom, com perto de dois quilos.
- Ah, ah, ah...
- Eh, eh, eh...
Ainda nos rebolávamos à conta do Pires, quando topámos com o Paulo, o grande corricador que, por norma, sacava sempre robalos para cima de cinco quilos.
- Amigo Paulo, esses cabeçudos saem ou não?
- Andam aí uns peixes. – Disse ele, com um ar conspirativo. - Anteontem apanhei dois.
- Com cinco quilos ou mais? – Perguntei eu, prestes a desmanchar-me.
- Um tinha quatro quilos e picos e o outro tinha à volta de seis.
- Ah, ah, ah...
- Eh, eh, eh... – Está bem, fez a média. – Disse o Felisberto, enquanto seguíamos em direcção ao carro.
Quando chegámos ao café do nosso bairro, para bebermos umas bejecas, deu-me para olhar para as compras.
- Olha... O tipo deu-me engodo para as abletes em vez de carpas. – Disse eu, logo acrescentando: - Bolas! E isto não é cânhamo, é ervilhaca!...
- Eh, eh, eh... – Fez o Felisberto. – Que saudades tenho quando os empregados das casas de pesca eram simplesmente caixeiros como quaisquer outros e não especialistas em pesca e grandecíssimos pescadores.
- Ah, ah, ah...
- Eh, eh, eh...
- Sabes, Felisberto, o que é que somos, no meio do cenário actual da pesca?
- Não.
- Somos uns marretas!
- Uns marretas!?...
- Sim, meu caro. Somos como os “Marretas”, aqueles velhos cínicos do The Muppet Show, do Sapo Cocas e da Miss Piggy. Os velhos que criticavam os quadros do programa e gozavam com tudo. E que se rebolavam a rir das suas próprias observações.
- Ah, ah, ah...
- Eh, eh, eh... Marretas... Está bem visto, sim senhor.