Aproveito para publicar uma citação do livro do Dr. Manuel Vassalo, a propósito de calibres, projécteis e balística. É um caçador experimentadíssimo, sobretudo de aproximação e guia de caça em Portugal e África. Aqui vão algumas transcrições:
"Tão ou mais importante, que a marca e o calibre, é o tipo de projéctil. Actualmente, todas as carabinas têm a precisão necessária para atingirem um alvo de quinze por quinze, a duzentos, trezentos metros. Estamos, claro, a falar de carabinas para caça e não para provas de precisão. Ora o coração de um veado, macho adulto, tem mais ou menos estas medidas, quinze por quinze.(…)
Como em tudo o que temos de fazer compromissos: nas miras, nas carabinas e no seu calibre. Por exemplo o 9.3 é mais próprio para montarias do que aproximações. Quem caça essencialmente de montaria e faz uma aproximação por ano, ou nem isso, deve comprar um 9.3 e não um 7 mm Rem. Mag. Mas se quiser fazer os dois tipos de caça, pode comprar um 8x68S ou um 338 Win. Mag. (…)
Relativamente aos projécteis, o que mais me interessa é que tenham um bom Coeficiente Balístico. Em projécteis do mesmo calibre e com o mesmo peso dou preferência aos que têm maior Coeficiente Balístico. O Coeficiente Balístico mede a capacidade do projéctil de se deslocar no ar. Quanto maior o C.B., menos velocidade perde ao longo da trajectória e menos se desvia com o vento. Um importante factor que influencia o C.B é a forma, mais ou menos aerodinâmica do projéctil e outro factor, o seu peso. Quanto maior o peso do projéctil maior é o C.B. e inversamente quanto mais leve for, menor é o C.B.. Os projécteis mais leves permitem velocidades iniciais maiores, menor recuo da arma e tiros mais rasantes, no entanto têm menos penetração, perdem mais rapidamente a velocidade inicial e desviam-se mais com o vento. Tal como se falou em relação ao calibre, o tipo de projéctil escolhido deve ter em conta a modalidade de caça que se praticará. É diferente atirar a um javali de espera ou de montaria, assim como as distâncias mais correntes a que se atira e o tipo de animal, pois é diferente caçar-se de espera a um javali ou caçar-se de aproximação a um veado.(…)
Falando com conhecimento prático sobre um projéctil e de acordo com a minha experiência, tenho o meu conceito, que pode ser polémico, mas é o que sigo, sendo tão válido como afirmar o contrário. Espanto-me com caçadores que falam de projécteis e durante a conversa, vejo que caçaram meia dúzia, ou menos, de animais de uma espécie. Quanto a mim, para se conhecer um projéctil, é necessário atirar-se, pelo menos, a uns vinte animais. Depois, é necessário atirar-se de frente, lateralmente, de trás a três quartos e de frente a três quartos. Ora, como há no mínimo cinco posições de tiro, os vinte animais caçados em cada posição, darão por volta de cem animais.
Para complicar mais o conhecimento prático de um projéctil, ainda se levanta o problema das distâncias, pois um projéctil tem comportamentos distintos a setenta, oitenta ou a duzentos, trezentos metros."
Dr. Manuel Vassalo in Veados na Raia