Gerir a Raiva
Por vezes, quando se tem um mau dia e precisamos de o descarregar em alguém, não o faça em alguém seu conhecido.
Descarregue em alguém que NÃO conheça.
Estava sentado à minha secretária, quando me lembrei de um telefonema que tinha de fazer. Encontrei o número e marquei-o.
Respondeu um homem que disse:
- " Está?"
Educadamente respondi-lhe:
-"Estou! Sou o Jorge. Posso falar com a Sra. Ana Marques, por favor?"
Ficou com uma voz transtornada e grito-me aos ouvidos:
-"Vê lá se arranjas a merda do número certo, ó filho da puta!" e desligou o telefone.
Nem queria acreditar que alguém pudesse ser tão mal educado por causa de uma coisa destas. Quando consegui ligar à Ana, reparei que tinha acidentalmente transposto os dois últimos digitos.
Decidi voltar a ligar para o mesmo número "errado" e, quando o mesmo tipo atendeu, gritei-lhe:
"És um granda pan*leiro!" e desliguei.
Escrevi o nº. dele juntamente com a palavra "pan*leiro" e guardeio.
De vez em quando, sempre que tinha umas contas chatas para pagar ou um dia mesmo mau, telefonava-lhe e gritava-lhe.
-"És um pan*leiro!"
Isso animava-me.
Quando surgiu a identificação de chamadas, pensei que o meu terapêuticotelefonema do "pan*leiro" iria acabar. Por isso , liguei-lhe e disse:
-"Boa tarde... Daqui fala da PT. Estamos a ligar-lhe para saber se conhece o nosso serviço de identificação de chamadas!"
Ele disse:
-"NÃO!" e bateu com o telefone.
De seguida liguei-lhe, e disse-lhe:
-"É porque és um grande pan*leiro!"
Uma vez, estava no parque de estacionamento do Centro Comercial e, quando me preparava para estacionar num lugar livre, um tipo num BMW corto-me o caminho e estacionou no lugar que eu tinha estado à espera que vagasse.
Buzinei-lhe e disse-lhe que estava ali primeiro à espera daquele lugar, mas ele ignorou-me.
Reparei que tinha um letreiro "Vende-se" no vidro de trás do carro, e tomei nota do número de telefone que lá estava.
Uns dias mais tarde, depois de ligar ao primeiro pan*leiro, pensei que era melhor telefonar também para o pan*leiro do BMW.
Perguntei-lhe:
-"É o senhor que tem um BMW preto à venda?"
-"Sim, disse ele.
-"E onde é que o posso ver?", perguntei
-"Pode vir vê-lo a minha casa, aqui na Rua das Descobertas, nº. 36. é uma casa amarela e o carro está estacionado mesmo à frente."
-"E o senhor chama-se?." perguntei.
-"O meu nome é Alberto Palma", disse ele.
-"E a que horas está disponível para mostrar o carro?"
-"Estou em casa todos os dias depois das cinco."
-"Ouça, Alberto, posso dizer-lhe uma coisa?"
-"Diga!"
-"És um ganda pan*leiro!", e desliguei o telefone.
Agora, sempre que tinha um problema, tinha dois pan*leiros" a quem telefonar.
Tive então uma ideia. Telefonei ao pan*leiro nº. 1.
-"Está?"
-"És um pan*leiro!"(mas não desliguei)
-"Ainda estás aí?" ele perguntou...
-" Sim", disse-lhe.
-"Deixa de me telefonar!" gritou.
-"Impede-me" disse eu.
-"Quem és tu?" perguntou.
-"Chamo-me Alberto Palma", respondi.
-"Ah sim? E onde é que moras?"
-"Moro na Rua das Descobertas, nº. 36, tenho um BMW preto mesmo em frente,ó paneleiro. Porquê?
-"Vou já aí Alberto. É melhor começares a rezar", disse ele.
-"Estou mesmo cheio de medo de ti, ó pan*leiro!" e desliguei.
A seguir, liguei ao pan*leiro nº. 2.
-"Está?"
-"Olá, pan*leiro!" disse eu.
Ele gritou-me:
-"Se descubro quem tu és,..."
-"Fazes o quê? perguntei-lhe.
-"Parto-te a tromba!" disse ele.
E eu disse-lhe:
-"Olha, pan*leiro, vai ter essa oportunidade. Vou agora aí a tua casa, e já vais ver."
Desliguei e telefonei à polícia, dizendo que morava na Rua das Descobertas,nº.36, e que ia agora para casa matar o meu namorado gay.
Depois liguei para as cadeias de TV e falei-lhes sobre a guerra de gangs que se estava a desenrolar nesse momento na Rua das Descobertas.
Peguei no meu carro e fui para a Rua das Descobertas.
Cheguei a tempo de ver os dois parvalhões a matarem-se à pancada em frente de seis viaturas da policia e uma série de repórteres de TV.
Já me sinto muito melhor.
Gerir a raiva sempre funciona....