O sucesso reprodutivo, a sobrevivência e a densidade das populações dos vertebrados terrestres depende em grande medida da qualidade e disponibilidade do habitat. O habitat pode ser considerado como o espaço físico que proporciona à população alvo as condições propícias para a reprodução, a alimentação e refúgio, e o conjunto dos factores ambientais que influenciam o ciclo de vida da espécie em causa.
A gestão de uma população bravia, deve ter em conta a sua dimensão (bem como a sua dinâmica, sobrevivência e capacidade reprodutiva), e que esta depende da quantidade e da qualidade do habitat disponível, ou seja é função da capacidade de suporte do meio, independentemente dos objectivos da gestão dessa população. O gestor deve saber quais as componentes do habitat da espécie alvo, de que maneira ela as utiliza e sobre quais devem incidir as medidas de gestão, por forma a que se atinjam os objectivos inicialmente propostos.
É do consenso de todos, que as alterações nos habitates, foram, e continuam a ser, a principal causa para a diminuição das populações da maioria das espécies da nossa fauna bravia. No que à cinegética diz respeito, as mudanças nos ecossistemas agrícolas, foram em grande parte responsáveis pela diminuição das populações de perdiz-cinzenta, de codorniz, lebre e rolas, por exemplo.
A gestão do habitat degradado, por forma a restituir o seu potencial produtivo, é o passo fundamental na gestão cinegética, na pesca, na conservação e em qualquer outra actividade em que se pretenda gerir populações bravias (como as actividades turísticas). As técnicas de gestão de habitat englobam um conjunto de medidas que vão desde o ordenamento do território (de longa duração), até medidas mais simples, como as culturas para a fauna.
Quando se pretende aumentar o tamanho da população, é necessário saber quais os constrangimentos à normal evolução da população, por forma a atenuá-los. Por exemplo, em resposta a uma baixa taxa de reprodução devido à inexistência de locais propícios para a construção de ninhos, de nada serve disponibilizarmos alimento, ou efectuar repovoamentos, visto o meio não comportar mais casais reprodutores.
Na gestão cinegética pretende-se obter uma população que tenha a capacidade de, todos os anos, produzir um excedente populacional que irá ser caçado, sem com isso por em causa o crescimento do ano seguinte. Assim, se disponibilizarmos mais habitat favorável à espécie, ou espécies que pretendemos gerir, teremos em teoria uma população maior, pois estamos a aumentar a capacidade de suporte do meio.
Em zonas agrícolas com potencial cinegético ou de conservação, é necessário articular a gestão das várias actividades, por forma a que não se perca a sua sustentabilidade. A gestão da exploração como um todo (ordenamento biofísico) é a primeira variável da nossa equação que precisa de ser definida. Grandes áreas contínuas de um só tipo de cultura não proporcionam grande habitat para espécies cinegéticas, sendo também muito pouco favoráveis para a biodiversidade. Podemos mesmo afirmar que em Portugal as grandes zonas cinegéticas têm uma componente agrícola quase dominante.
A manutenção de orlas e sebes vivas é um dos primeiros cuidados a ter no planeamento de uma exploração de cariz cinegético. Estas zonas de vegetação arbórea e/ou arbustiva, diversificam os habitates disponíveis. São bons locais para a nidificação e abrigo, e podem beneficiar, por exemplo, as nossas populações de coelho e perdiz, consideradas como espécies de orla.
Estas formações arbóreas desempenham também um papel importante nas zonas agrícolas (atenuam o efeito de condições climatéricas adversas), e não devem ser alvo de práticas agrícolas ou silvícolas mais intensivas, por forma a proporcionarem o alimento e a segurança que as zonas agrícolas adjacentes não dão. Estas faixas beneficiam também algumas espécies que dificilmente subsistiriam na zona agrícola, como algumas aves insectívoras de orla (como os chapins).
Estas faixas podem também ter como função a protecção contra ventos dominantes, protegendo a cultura agrícola, caso sejam instaladas tendo em conta a direcção predominante. Se forem instaladas ao longo dos caminhos, a sua implementação e manutenção será mais fácil.
Fonte: confagri