Quando nos iniciamos na pesca do achigã, uma das
primeiras dúvidas consiste na escolha da linha adequada para este tipo
de pesca. A pergunta habitual do iniciado nesta pesca é: - Que tipo de
linha escolher e que diâmetro utilizar? Com o leque de escolhas sempre
em constante crescimento, compreende-se a dúvida.
Monofilamento ou multifilamento? Nylon ou fluorocarbono?
Multifilamento simples ou revestido? Nylon simples, copolímero ou nylon
revestido a fluorocarbono?
A panóplia actual de produtos disponíveis no mercado dificulta a escolha
e pode gerar alguma confusão. Para agravar a situação, se perguntarmos a
opinião a vários pescadores com mais experiência, podemos obter
diversas respostas, de acordo com as preferências de cada um e as suas
técnicas preferidas. Pessoalmente, já experimentei todas as linhas
mencionadas e dou por mim a regressar, quase sempre, ao nylon, como
linha para utilizar na maior parte das situações. Mais recentemente, o
nylon revestido a fluorocarbono conseguiu conquistar um lugar importante
no meu leque de escolhas. O fluorocarbono continua a ter um lugar algo
residual e apenas o utilizo em aplicações muito concretas e precisas.
Por último, o multifilamento foi completamente afastado das minhas
opções embora continue a ter os seus defensores. Neste artigo, vou
analisar as vantagens e inconvenientes de cada tipo de linha e as
situações em que, na minha opinião, devemos utilizar uma ou outra, de
forma a podemos tirar partido das suas características.
NylonUm bom monofilamento em nylon, com pouca memória, com resistência
adequada ao nó e às tensões e que suporte moderadamente a abrasão de
obstáculos submersos, num diâmetro médio (por ex: 0.25 mm) é uma
excelente escolha para a maior parte das técnicas utilizadas na pesca do
achigã. É aquilo que os americanos chamam “bread and butter”, ou seja,
uma linha “pão com manteiga”. Simples, sem complicações exageradas na
sua utilização e que cumpre a sua função, adaptando-se na perfeição ao
restante material habitualmente utilizado na pesca do achigã. Um nylon
de boa qualidade, possui elasticidade (sem ser em demasia) tornando-se
uma linha extremamente agradável de manusear e utilizar. Essa
elasticidade é um factor positivo quando combinado com a maior rigidez
das canas de carbono. A combinação da elasticidade da linha e da maior
rigidez da cana permite animações fluidas e ferragens eficazes. A sua
flutuabilidade pode revelar-se uma vantagem nas técnicas de superfície.
Não é abrasiva para o material, nomeadamente os passadores das canas.
Acomoda-se sem problemas a carretos de spinning e de casting, desde que
reservemos os diâmetros mais finos de 0.20mm a 0.24mm para os primeiros e
reservemos os maiores diâmetros, de 0.25mm até os quase 0.40mm que
podemos utilizar em certas situações, para os carretos de casting.
A acusação de falta de sensibilidade quando utilizada nas técnicas de
fundo leva alguns pescadores a tomar outras opções para estes casos mas,
com as canas de carbono actuais, extremamente sensíveis, permite,
aliada à experiência, a sensibilidade mais que suficiente para detectar
os toques e perdoa muitos dos erros do pescador, na altura de ferrar e
de trabalhar o peixe.
Por último, é fácil controlar o bom estado dos últimos metros da linha
ao pescar em zonas com rochas ou obstáculos submersos – basta passar os
dedos pelos últimos metros. Deve-se cortar e rejeitar, sem hesitação, o
pedaço afectado e reempatar a amostra, assim que for detectada alguma
imperfeição. Este procedimento evita quebras súbitas e “inexplicáveis”,
geralmente durante a luta com um bom exemplar e poupa muitos lamentos e
desilusões. Como desvantagens principais, pode-se apontar, dependendo
das marcas e dos modelos, uma menor resistência à abrasão e às tensões
elevadas, que são suportadas facilmente por outros tipos de linhas com
os mesmos diâmetros. Dependendo da coloração, pode-se revelar uma linha
com demasiada visibilidade – o que é vantajoso para o pescador, na hora
de detectar toques visualmente, mas é uma desvantagem por poder
denunciar a linha em técnicas e águas limpas em que o achigã tem mais
tempo para analisar a montagem. É muito sensível aos raios
ultravioletas, pelo que necessita de renovação frequente, quando sujeita
a longas exposições ao sol.
MultifilamentoUma linha com uma grande resistência a tensões elevadas, mesmo em
diâmetros muito finos. Não possui memória e a elasticidade é quase nula.
Utilizada como linha preferencial por alguns pescadores de margem que
aceitam as desvantagens pela possibilidade de poder recuperar quase
todas as amostras presas, desde que o peso do obstáculo a que a amostra
se prendeu o permita – já observei pescadores a arrastarem árvores
submersas, tal a resistência das linhas. Com obstáculos fixos que não
permitem a recuperação, pode obrigar à perda de muitos metros de linha,
se os anzóis não abrirem. A sua resistência impede que o pescador a
consiga quebrar por acumulação de tensão (pode chegar a provocar cortes
profundos nas mãos desprotegidas) e a única alternativa é cortar a
linha, perto do pescador. Como não possui elasticidade é muito utilizada
em aplicações de pesca profunda para aumentar a sensibilidade do
pescador. Essa situação não se coloca no caso do pescador de achigã. É
extremamente abrasiva para o material, podendo abrir sulcos profundos em
passadores menos resistentes que se tornam pontos de corte para as
linhas. Combinada com canas rígidas em carbono, a inexistência de
qualquer elasticidade, contribui para aumentar o número de ferragens
falhadas por antecipação (com amostras de superfície) ou para perder
bons exemplares com amostras de fateixas, devido à abertura de largos
rasgões nas cartilagens, provocados pelos excessos de tensão acumulada
pelas acções do pescador transmitidas pela cana e pela linha, por onde
os anzóis se escapam com facilidade ao primeiro salto do peixe. Tem
tendência para se fragilizar e assumir um aspecto de “corda” depois de
partir alguns filamentos – devido a toques em rochas e obstáculos
submersos. Deste modo a sua visibilidade, já elevada, aumenta de forma
muito pronunciada, aumentando também a probabilidade de quebras
inesperadas, na ferragem ou no lançamento – quando este se interrompe
inadvertidamente, por exemplo. Torna-se difícil controlar o estado da
linha e o seu preço mais elevado faz com que o pescador tenda a “poupar”
na altura de rejeitar os últimos metros o que leva a situações
desagradáveis de perda de amostras e de bons exemplares. Com amostras
mais pesadas permite lançar a longas distâncias, o que se pode revelar
vantajoso para o pescador de margem, mas o controle de um grande achigã,
ferrado a grande distância, revela-se difícil. Sendo, precisamente, uma
linha comercializada com diâmetros muito finos, necessita de muitos
metros para um enchimento perfeito ou de bobinas mais reduzidas (match)
nos carretos de spinning e torna-se algo difícil de utilizar na maioria
dos carretos de casting. Tem tendência a infiltrar-se entre a bobina e o
carreto e em caso de “cabeleira” ou prisão, pode afundar-se, de tal
forma, entre as espiras, que se torna completamente impossível de
remover o novelo sem inutilizar quase toda a linha. Os multifilamentos
revestidos apresentam as mesmas propriedades mas a linha tem um aspecto
uniforme e mais familiar para o utilizador do nylon. No entanto, o
processo de revestimento parece afectar a sua uniformidade e quebras
inesperadas são frequentes. Para mim, as desvantagens deste tipo de
fios, na nossa pesca, anulam completamente as possíveis vantagens, e,
por isso, não o utilizo. Mas é apenas a minha opinião pessoal.
FluorocarbonoLinha desenvolvida e comercializada com base no factor de ser
potencialmente invisível debaixo de água. Possui pouca ou nenhuma
elasticidade consoante os modelos e os fabricantes. A sua maior rigidez
de manuseamento dificulta a sua utilização por comparação com o nylon.
No entanto, para aplicações específicas onde a sensibilidade e a
invisibilidade são essenciais, nada iguala o fluorocarbono – por
exemplo, em técnicas de fundo, como o empate Texas ou o drop-shot, a
profundidades mais significativas, em que a maior sensibilidade deste
tipo de linha pode fazer a diferença entre sentir ou não os toques
subtis de um peixe. Não aprecio o ruído irritante na passagem pelos
passadores durante os lançamentos e a recuperação – é agreste e
abrasivo. Alguns pescadores acham-no reconfortante o que só vem
confirmar que há gostos para tudo. Há quem o utilize em quase todas as
aplicações, o que se revela dispendioso e, quanto a mim, desnecessário.
Nos carretos de spinning, os fluorocarbonos mais rígidos tendem a sair
em espiras de forma quase incontrolável antes de “acamarem”. Prefiro
fluorocarbonos menos rígidos que evitam esta situação. A remoção de
“cabeleiras” nos carretos de casting também é mais difícil. Este fio,
possui uma boa resistência à abrasão e o estado da linha, ao contrário
do multifilamento, é mais fácil de controlar. Recentemente está também
muito em voga a sua utilização com crankbaits e spinnerbaits. Os seus
apologistas argumentam com a sua grande resistência e pouca elasticidade
que se associa bem à maior flexibilidade que as canas específicas para
essas técnicas geralmente apresentam. A sua menor flutuabilidade, por
comparação com o nylon, permite, também, atingir maiores profundidades
com os crankbaits.
Nylon revestido a fluorocarbono Na sequência do desenvolvimento dos copolímeros, com núcleos mais
resistentes e revestimentos mais macios e com pouca memória, surgiram as
linhas revestidas a fluorocarbono. Pretende-se aliar as vantagens do
nylon às características desejáveis do fluorocarbono, nomeadamente a sua
“invisibilidade” dentro de água. A maioria dos fabricantes que a produz
consegue fornecer uma linha extremamente agradável ao manuseamento, que
lança bem e que apresenta um bom comportamento em quase todas as
aplicações. Uma inovação que consegue seduzir muitos dos apologistas do
nylon – eu incluído. Já utilizo este tipo de linha há vários anos e
penso que consegue reunir, num único pacote, aquilo que aprecio no
fluorocarbono mantendo as características mais “amigáveis” do nylon. Não
sendo, nem uma coisa nem outra, é uma das linhas mais agradáveis que se
pode utilizar e prova bem quando se pretendem obter bons resultados,
quer na pesca lúdica, quer em competição..
ConclusãoDe forma geral, um bom nylon, resistente e com pouca memória pode ser
utilizado com êxito em praticamente todas as aplicações e técnicas
utilizadas para o achigã, variando apenas o diâmetro utilizado e a maior
ou menor resistência à abrasão adequando-as à técnica utilizada e às
características do local (mais ou menos obstáculos abrasivos, como
rochas). Um bom compromisso são as linhas de nylon revestidas a
fluorocarbono que aliam um excelente manuseamento à eventual menor
visibilidade conferida pelo revestimento de fluorocarbono. Para
aplicações específicas, como o drop-shot profundo, onde a sensibilidade e
a invisibilidade são essenciais, nada iguala o fluorocarbono.
Não esqueça que ao utilizar diversas canas com diferentes acções e
resistências, associadas a diversos tipos de linha, necessitamos de
aumentar a concentração para que a animação e a ferragem seja ajustada a
cada combinação diferente de espessura, tipo de linha e acção da cana,
sem o que podemos cometer erros que acabam irremediavelmente por nos
custar a captura do peixe.
TesteNylon – A juntar ao excelente nylon da linha POTENZA, utilizado por
muitos pescadores, com bons resultados, nomeadamente pelos Campeões
Nacionais de pesca embarcada ao achigã, a dupla Joaquim Moio e João
Grosso, a VEGA vem agora lançar no mercado outro monofilamento de
qualidade acima da média, na linha AKADA. Nos testes, este nylon mostrou
possuir, a exemplo do anterior, um conjunto de características que
facilitam o lançamento, o trabalho e a animação das amostras. Com pouca
memória e uma boa resistência ao nó e à abrasão, é uma linha adequada
para todo o leque básico de aplicações e técnicas da pesca ao achigã. Os
diâmetros mais finos provaram bem, utilizados em carretos de spinning.
Produziram lançamentos longos, mesmo com amostras leves e apresentaram
uma boa resistência ao enrolamento, quando utilizados com técnicas que o
favorecem (como o empate weedless com amostras de vinil). Os maiores
diâmetros utilizados no teste, na casa dos 0.28-0.32mm são muito
resistentes à quebra e a danos provocados por obstáculos submersos
quando utilizado com técnicas de fundo. Produzido com tratamento contra
os raios UV, é uma linha que satisfaz plenamente em qualquer utilização.
Nylon revestido a fluorocarbonoA linha testada nesta categoria pertence ao grupo dos monofilamentos
revestidos a fluorocarbono da VEGA, neste caso um modelo novo, o AKADA
FC. Com uma agradável cor champanhe, esta linha surpreendeu pela
positiva. Suave e flexível ao manuseamento, acomoda-se com perfeição às
bobinas dos carretos e permite lançamentos suaves e sem esforço. O
revestimento em fluorocarbono confere-lhe menor visibilidade dentro de
água que os monofilamentos convencionais. Simultaneamente, exibe uma
sensibilidade acrescida sem os inconvenientes da maior rigidez do
fluorocarbono puro. Pode ser utilizada em quase todas as vertentes da
pesca ao achigã, mas revela todas as suas potencialidades ao ser
utilizada com técnicas que necessitem uma linha mais discreta associada a
uma maior capacidade de detecção de toques e à sua elevada resistência à
abrasão. Numa palavra – Excelente!
Fluorcarbono e MultifilamentoA VEGA possui também um bom fluorocarbono da linha POTENZA. Fornecido em
bobinas de 50 metros está mais direccionado para a utilização no mar
como estralho para multifilamento. Com enchimento prévio da bobina com
outra linha, pode ser utilizado para técnicas de pesca ao achigã a maior
profundidade, como o drop-shot, quando se exige a maior sensibilidade e
invisibilidade.
Quanto ao multifilamento da linha POTENZA – Braided Line, surpreendeu
devido a um conjunto de características desejáveis. A impermeabilidade
desta linha permite evitar a absorção de água e potencia a distância de
lançamento. O revestimento concebido para lhe dar resistência à
salinidade contribui para atenuar o desgaste dos passadores. Sem
qualquer elasticidade, permite a detecção de toques e o trabalhar de
amostras, mesmo em condições mais difíceis, como em zonas com vegetação
cerrada. A seleccionar, por apreciadores.
Todas as linhas testadas são produzidas em fábricas japonesas aliando o
rigor do fabrico, que se pode observar na uniformidade dos diâmetros,
qualidade da bobinagem e das matérias-primas utilizadas, ao know-how da
VEGA, resultando em produtos adaptados de forma excelente à diversidade
de utilizações do nosso tipo de pesca.
Texto de Jaime Sacadura publicado no Jornal da Pesca Nº2