SETTER IRLANDÊS
Não é fácil definir o andamento ideal do Setter Irlandês. Entre as raças de cães de caça, o
Setter Irlandês é sem dúvida aquela onde existe mais diversidade e acerca da qual de emitem
as opiniões mais contraditórias. Para as outras raças de cães de parar ingleses, e
especialmente para as raças continentais, as regras são mais precisas, mais fixas.
Será que esta inconstância constitui uma vantagem? É difícil responder, pois as opiniões
divergem.
Apesar destas incertezas e destas contradições, é necessário estabelecer regras para que os
juízes designados para julgar os nossos cães em provas de trabalho saibam, pelo menos,
aquilo que o Clube do Setter Irlandês pretende em França.
Mas, estas regras devem permanecer suficientemente flexíveis para se ter em conta o
temperamento dos Setters irlandeses que, não devemos esquecê-lo, são originários de uma
terra céltica. Todos sabem que os Celtas eram conhecidos, e ainda o são, segundo uns pelo
seu carácter “independente” e segundo outros pela sua indisciplina.
Apesar destas precauções, podemos no entanto estabelecer as directrizes que o Clube do
Setter Irlandês desejaria que os juízes adoptassem quando julgam esta raça.
O andamento e o estilo podem ser apreciados de acordo com os seguintes aspectos:
- O galope
- O porte da cabeça
- O porte da cauda
- A busca
- A paragem
O GALOPE do Setter Irlandês deve ser rápido, flexível e amplo. Os passos devem ser longos e
os membros anteriores devem cruzar os posteriores.
Deve ser menos “rasante” que o do Setter Inglês, menos “alto” que o do Pointer e menos
“ondulante” que o do Setter Gordon.
A linha dorsal pode permanecer direita, sem permanecer tão rígida como a do Setter Inglês.
Não deve galopar com o dorso demasiado arqueado. O galope “curvado” deve ser interdito.
O PORTE DA CABEÇA ideal do Setter Irlandês é sem dúvida o mais difícil de definir. Também
é necessário caracterizá-lo comparando-o com os seus primos e parentes ingleses. Deverá
posicionar a cabeça como o Pointer, ou seja muito elevada e demasiado petrificada? Claro
que não: embora não possa ser considerada um defeito, esta característica não é
inerente à raça.
Deverá posicionar a cabeça como o seu primo, o Setter Inglês? Também não, embora o porte
da cabeça deva estar próximo do Setter Inglês.
Na verdade, o Setter Inglês deve posicionar a cabeça próxima da linha dorsal, ligeiramente
abaixo ou mesmo ligeiramente acima desta.
O Setter Inglês era um cão adaptado a todos os tipos de caça: na planície, bosque, pântano,
de pena ou pêlo, e, devendo permanecer um excelente cão de cobro, deve adaptar o porte da
cabeça a todas as situações: terreno, vegetação, vento, higrometria e natureza da peça
caçada. Não é interdito ao Setter Irlandês controlar as emanações na solo, mas sem
exagero. Sobretudo nas Provas de Primavera. Na caça a tiro, os juízes devem ser mais
tolerantes.
Assim, é necessário, também neste caso, evitar demasiada rigidez na apreciação. Apenas se
devem rejeitar os excessos acima assim como abaixo da linha dorsal.
O PORTE DA CAUDA não é muito importante. Mas, apesar disso é necessário falarmos
sobre ele. A cauda deve ser preferencialmente posicionada “baixa”.
O Setter Irlandês pode “agitá-la”? É mais estético não “agitar a cauda”, mas não pode ser
considerado um defeito.
A BUSCA deve ser ampla e cruzada, como para todos os cães de parar ingleses. Mas pode
ser menos ampla que a do Pointer e a do Setter Inglês.
Esta deve ser inteligente, ou seja, a exploração do terreno deve ser sistemática, adaptada ao
terreno e ao tipo de caça. É necessário, também aqui, conceder uma certa latitude ao cão,
sendo que o objectivo encontrar a caça e o de prestar uma bela demonstração espectacular ou
estética.
A PARAGEM. Talvez seja um pleonasmo repetir que a paragem do cão de parar é o que há
demais importante nos eu comportamento, mas é necessário evitar a mecanização à qual o
carácter independente do nosso cão não se adapta.
A paragem do Setter Irlandês não tem necessariamente que ser cataléptica. Deve ser flexível
e segura. O Setter Irlandês não costuma ser um “cão de parar falso” e este é um defeito que
não é necessário admitir.
A paragem deve ser, tal como todo o seu comportamento, flexível e segura. Ela também não
tem de ser “felino” nem “leonino”, mas apesar disso estas duas atitudes não são consideradas
defeitos.
A paragem do Setter Irlandês pode ser “deslizante” ou “progressiva”. O porte da cabeça pode
ser, como na busca, posicionado no prolongamento da linha dorsal, acima ou abaixo deste, de
acordo com o terreno e o tipo de caça.
Esta descrição do estilo “Irlandês” pode parecer imprecisa ao espírito cartesiano dos franceses.
Mas, relembro mais uma vez, que o Setter Irlandês é de origem celta, isto é, tributário de uma
civilização feita de independência e de liberdade, quiçá de fantasia.
É necessário preservar esta flexibilidade do nosso cão, esta liberdade, esta independência, que
são os componentes do seu comportamento em todas as circunstâncias.
Não é necessário, de forma alguma, querer imitar outras raças, a pretexto da eficácia.
O nosso cão perderia a sua ama, ou seja as razões pelas quais ele é tão intimamente e de
forma tão apaixonada apreciado pelos seus amadores. Esta “alma irlandesa”, que não se
manifesta através de nenhuma qualidade técnica precisa, apenas pode ser “sentida” por
aqueles que a amam.[b]