Setembro 19, 2016
Os últimos anos têm sido anos de difícil convivência política, económica e social, com os consequentes problemas de complexa resolução e estabilização.
São muitas as actividades económicas e sociais que se têm debatido com graves crises, e a actividade económica e social que a caça representa não tem estado blindada a estes tempos difíceis.
As vontades políticas dos últimos anos têm sido, umas mais do que outras, sensíveis ao sector, mas a dificuldade orçamental que tem sido transversal a todos os governos da última década tem colocado a cinegética num patamar inferior no que respeita aos apoios para o mundo rural. A falta de capacidade económica, associada à inoperância política, tem condicionado o progresso imediato desta actividade.
Aliado a estes factores, a falta de poder de compra e retracção do consumo têm afectado a actividade cinegética na mesma proporção em que têm afectado a larga maioria das actividades em Portugal. As dificuldades e os acréscimos de despesa impostos pela lei das armas e o complicado e desastroso efeito da doença hemorrágica viral nas populações de coelho bravo, com as suas novas estirpes derivadas da constante mutação do vírus, tem conduzido a uma redução importante no número de caçadores, que sempre viram no coelho bravo a sua caça predilecta, e que cada vez mais deparam-se com dificuldades ao seu direito do uso e porte de arma de caça.
Mas correrá tudo mal no sector cinegético?
De modo algum. Continua a ser um dos sectores com mais impacto económico, directo e indirecto, no mundo rural. Mantém-se como uma das actividades desportivas com mais praticantes em Portugal, e acima de tudo continua a ter cada vez mais um papel fundamental e insubstituível na conservação da natureza e na melhoria da biodiversidade.
Mas mesmo assim, alguns movimentos continuam a exigir o fim da caça em Portugal, tentando legislar de uma forma proibicionista ou repressiva, de modo a atingirem o seu fim ideológico de inserir também as espécies cinegéticas no alargamento do regime sancionatório aos maus tratos a animais que não só de companhia, deixando ao livre arbítrio o que seja a definição de mau trato a uma espécie cinegética.
E em que se baseiam, para além da inusitada humanização de todo e qualquer animal?
Em nada. E se fizessem o seu trabalho de casa de uma forma honesta, teriam concluído o mesmo que se concluiu em países europeus como a Holanda e a Bélgica, onde as proibições e repressões da actividade cinegética resultaram num rotundo desastre, dando origem a uma nova problemática: o descontrolo da vida selvagem, onde gansos, raposas, javalis e veados se tornaram uma praga, causando impactos negativos de larga escala, com consequências graves para a segurança das populações e um impacto extremamente negativo para os habitats e a biodiversidade. Mas não precisamos de ir tão longe, bastando olhar para a situação dos últimos anos na área protegida da Arrábida, tratando-se de um exemplo claro do resultado da vertente proibicionista sobre a caça.
Proibir a caça terá sempre resultados desastrosos e um impacto ambiental devastador, pondo em risco a saúde de humanos e animais selvagens, e consequentemente aumentado drasticamente o conflito entre humanos e a vida selvagem.
E é desta forma que se comprova que as ideologias dos movimentos que se opõem à caça baseiam esmagadoramente a sua argumentação em aspectos ideológicos, em detrimento de factos científicos ou conhecimento de causa.
É com a constatação destes erros já conhecidos que no Parlamento Europeu já se discutem os impactos negativos das vertentes proibicionistas no sector cinegético, ao nível do "Intergroup on Biodiversity, Hunting and Countryside", responsável pela conservação de espécies selvagens, pesca e caça sustentáveis, bem como pela gestão sustentável do mundo rural e do seu património cultural.
Então, se os países que já condicionaram ou proibiriam a caça começam a realizar o erro cometido; se o Parlamento Europeu já se dedica a contrapor esses efeitos negativos fomentando responsabilidade, sustentabilidade e transparência no sector cinegético, devemos nós em Portugal permitir que se siga a mesma política desastrosa já comprovada em outros Países Europeus?
Não, mas também não se espera que estes mesmos movimentos abdiquem de um dos temas em que mais se apoiam para, de uma forma infundada e desonesta, tentarem motivar uma sociedade urbanizada que já não compreende a realidade da caça e do mundo rural.
Mas cá estaremos para continuar a recordar a quem de direito, que devemos aprender (e não repetir) com os erros dos outros, e não permitir que se continue a publicitar os resultados do exterior apenas nos moldes que convêm aos fervorosos adeptos da nova moda do proibicionismo em Portugal, escondendo ou falseando as verdades dos factos.
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António Paula Soares