- Sr. Alberto Pimenta, muito gosto em vê-lo, como está…
- Bem, obrigado.
- Admiro-o muito e à sua obra. Desejo-lhe saúde e felicidades.
- Obrigado.
O que é que este brevíssimo diálogo com o escritor, poeta e ensaísta Alberto Pimenta, que tive o gosto de encontrar recentemente, pela primeira vez, ao vivo, na rua Morais Soares, junto à Praça do Chile, em Lisboa, tem a ver com a pesca? – Perguntarão vocês.
Pois bem, meus amigos, tem tudo!
Sou um grande admirador deste autor de mais de meia centena de livros, entre os quais “O Discurso do Filho da Puta”, de 1977.
E, desde há 25 anos para cá, sempre que topo com alguém por quem tenho consideração ou admiração, não hesito. Dirijo-me à pessoa (que não me conhece de lado nenhum), cumprimento-a, exprimo-lhe a minha consideração ou admiração e desejo-lhe saúde e felicidades.
E é aqui que entra a pesca.
Em 1988, fui à loja de pesca “O Anzol”, junto ao Areeiro, em Lisboa, comprar material e pedir informações ao dono do estabelecimento sobre a pesca na barragem de Castelo do Bode, para onde ia de férias.
Olhei para o canto esquerdo da casa e tive um baque…
De pé, encostado ao balcão, fitando-me, estava nem mais nem menos que o grande Jorge Brum do Canto. Mais envelhecido do que a imagem que eu guardava dele (tinha então 79 anos), magro, o cabelo já todo branco, com expressão suave e pose distinta.
Falei-lhe desajeitadamente, tratei do que tinha a tratar e fui-me embora, num estado de torpor encantatório.
Passados 15, 20 minutos voltei ao meu estado normal. E, então, comecei a sentir uma revolta imensa comigo próprio.
Então eu tinha estado ao pé do meu grande inspirador das coisas da pesca, de um grande vulto do desporto, do cinema, do teatro, da cultura em geral, e tinha-me ficado por umas “boas, tardes, como está”…
Confesso que as lágrimas vieram-me aos olhos e invadiu-me uma mágoa profunda. Por não ter expressado àquele gigante toda a minha admiração, o meu agradecimento e a imensa alegria por estar ali ao pé dele.
Podia-lhe ter dito que me fiz pescador de bóia por o ter visto, tinha os meus 12, 13 anos, a pescar à bóia, dentro de um barco, na doca de Peniche, com o seu engodador. E que sargalhão o vi tirar, no breve tempo em que o pude observar.
Ou podia-lhe ter dito que foi através de uma reportagem no Diário Popular sobre ele que tomei conhecimento do pesca-liberta, a propósito de uma pescaria sua, no Douro, às fataças.
Ou podia-lhe ter dito que apreciava a sua obra cinematográfica.
Ou que o admirava enquanto actor, que recordava pelas suas participações no teatro televisivo da RTP.
Mas não…
Tolhido pela magia do momento, embrutecido pela presença física de um dos meus deuses, não tinha dito nada. Tinha, isso sim, perdido a oportunidade de uma vida.
E é por isso, meus amigos, que não deixo, desde então, de expressar a minha admiração ou consideração a pessoas das mais diversas actividades de quem gosto. Assim, de chofre, quando a oportunidade se proporciona.
E, em cada uma dessas vezes, concomitantemente, é no grande Jorge Brum que penso.
É, digamos, a minha forma de me redimir.
De prestar ao grande pescador, ao pioneiro da pesca desportiva, ao grande homem e artista a homenagem que não lhe prestei na altura própria.
Lá onde esteja, um grande abraço Jorge Brum.