- Então, D. Perpétua, o nosso Fábio lá pulou mais um ano na faculdade…
- E com grandes notas, D. Manuela. A nossa vizinha Olga nem sabe a sorte que tem.
- Ai, lá isso… Já não se vêem rapazes assim. Com 19 anos e nunca entrou numa discoteca.
- É verdade, a única distracção dele é ir com o pai à pesca, aos domingos. Ai… se a minha neta tivesse juízo…
Nesse preciso momento, o estudante do curso de Engenharia Física Tecnológica, do Instituto Superior Técnico, estava trancado em casa. E, agarrado a um livro, dava largas à sua tristeza. Estava de férias e sentia-se só. As hormonas não o deixavam descansado. Pediam-lhe companhia.
Mas ele era um tímido. Pior, era um desajeitado. E, uma vez mais, martirizou-se com a lembrança da frustrada tentativa de se integrar no grupo de surfistas e respectiva corte de betinhas, na praia mais próxima da sua casa, na linha do Estoril. A sua única experiência de cavalgar as ondas ficara-se por uma monumental cambalhota, um lenho na cabeça, um joelho esfolado e pelos olhares enjoados das queques que assistiram à cena.
Foi então que tocaram à porta.
- Ói, vizinho, sei que é pescadô e queria pedir-lhe se pescava minha blusinha, que caiu no quintau do rés-do-chão. E não tem ninguém lá. Cê quebra meu galho, quebra?…
Fábio quebrou. Subiu ao segundo andar (“do meu apartamento tem mais ângulo”, dissera a moreninha) e pescou a blusa da moça.
- Aceita um cafezinho?
- Ora essa, não quero incomodar.
- Comoda nada. Magina… Cê foi tão legau…
Quando Fábio desceu, duas horas depois, trazia novas cores e um sorriso de orelha a orelha. Qual tristeza qual carapuça…
Na semana seguinte, Fábio conheceu as restantes três emigrantes brasileiras do quarto esquerdo. Todas muito desastradas… Depois do favor a Ivaneide, teve de pescar uns collants a Lucilene, um sutiã a Jacira e umas calcinhas fio dental a Josineide.
Passado um mês, o rapaz, as quatro moças da história, mais 10 raparigas e quatro moços do país irmão (que Fábio entretanto conhecera nos bailes da Casa do Brasil em Lisboa) eram o grande factor de animação da praia antigamente dominada pela malta do surf.
Até que um dia, Jacira disse a Fábio:
- Leva os caniços, meu bem, vamos todos fazê uma pêscaria.
Os banhistas e os pescadores das lajes do canto da praia nunca tinham visto uma pesca assim. Sobretudo depois de Fábio puxar da máquina fotográfica digital. Todas as 14 brasileiras fizeram questão de posar, uma a uma, em biquini ou nem isso, de cana na mão, em poses sugestivas e atrevidas.
O Verão foi inesquecível naquela praia da linha. E até o bar do concessionário teve mudanças. O próprio Necas, o sem-abrigo arrumador no parque automóvel local, por norma azamboado e distante, reparou nelas.
- Ó Gilberto, até que enfim que tiraste daqui as fotos dos betos do surf e as substituíste por estas garotas todas boas de cana na mão… Fiiiiiiiiiuuuu... Viva mas é a pesca!!!