Leonardo pediu aos colegas:
- Depois digam como correu a pesca.
- Fica descansado. – Responderam Renato e Paulo, trabalhadores da mesma instalação hoteleira, nos Alpes suíços, de abalada para umas curtas férias em Portugal.
Passados uns dias, na fria Suiça, Leonardo recebeu notícias da pescaria. Só que em vez de um mail, recebeu dois, pois ambos os colegas fizeram questão de relatar a jornada de pesca.
Escreveu Renato:
“Leo
O tempo por aqui não está lá muito agradável. Faz um calor abrasador e um sol que mal se aguenta. Isto é sempre assim: oito aí, oitenta aqui.
A pescaria foi muito fraca. Apanhámos quatro sarguinhos cada um, num pesqueiro no Guincho, um pouco a norte do Cabo Raso. Estava uma ventania que não deixava pescar bem. O mar tinha uma cor um bocado esquisita, assim para o verde-garrafa. E ainda por cima havia um bocado de limo miúdo que estorvava a pesca.
Para lixar mais a coisa, entraram salemas e tainhas grandes no pesqueiro. Umas cortavam a linha, as outras partiam.
Enfim, como vês, podia ter sido muito melhor”.
Por sua vez, escreveu Paulo:
“Olá, escravo
Tu aí quase congelado e nós aqui sob o maravilhoso sol e calor de Portugal. Rói-te de inveja (hi, hi, hi…).
Quanto à pescaria, à partida, a expectativa não era muita, pois o mar estava manso. Onde mexia mais era no Guincho, que como sabes é muito ventoso. Mas, mesmo assim, ainda deixava pescar. Por outro lado, a água, com algum limo miúdo, não tinha a cor ideal.
Pensei que, dadas as condições, qualquer peixito já era bem-vindo.
No entanto, engodámos e… surpresa!... metemos os sargos. Apanhámos quatro cada um. E apesar de não serem grandes tinham o tamanho de “dose”, mais ou menos o tamanho das douradinhas de aviário.
Depois, desapareceram e entraram as salemas. Meti um “aberdeen” e fartei-me de reinar. O Renato não quis mudar de anzol e passou o tempo a fazer empates… Depois apareceram as tainhas. Grandes. Fartei-me de brincar com elas, mas algumas partiam tudo, pois o pesqueiro não dava para meter o xalavar.
Enfim, dadas as circunstâncias, a pesca até foi muito boa. Diverti-me à farta, que é o que interessa. E vou comer uns sarguinhos grelhados, dos quais já tinha muitas saudades.
Moureja aí, desgraçado. Para teu consolo, digo-te que enquanto pescávamos íamos pensando em ti (ah, ah, ah…)”.
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